TEIADO,
homem de muitos talentos
homem que marcou seu tempo...
0) Teiado 2000
1) Teiado e Terezinha – 1987
Filho de José Ferreira dos Santos Diogo (Zé Diogo) e Filotéia Marçal da Fonseca (Téia), família humilde que vivia em Conceição do Mato Dentro, e possivelmente descendentes de africanos e espanhóis catalães. Foi filho único desse matrimônio, mas tinha uma irmã por parte de pai, Maria Antônia (tia Antoninha). Seu pai faleceu quando ele tinha apenas dez meses de vida e sua mãe tinha um problema de saúde que a impedia de caminhar. Nesse contexto, teve que aprender desde cedo a se cuidar sozinho, além de auxiliar a própria mãe nas tarefas domésticas e econômicas. Ainda criança, já vendia doces e quitandas fabricadas por sua tia Cessa, irmã de sua mãe que vivia com eles. Com a idade de sete anos, viajava a pé muitos quilômetros, por várias horas – como, por exemplo, de Conceição do Mato Dentro a Ouro Fino, além de outros distritos – para vender doces, biscoitos e bananas nas festas locais.
Apesar das dificuldades do contexto familiar, nunca faltavam dedicação e carinho. Entre suas lembranças de infância, ele sempre recordava que sua tia Cessa gostava muito de cantar, e tinha como costume despertá-lo com a canção de seresta:
Acorda, minha beleza
Descerra a janela tua
Espalha-se a luz da lua
Pela poética devesa
Entre os sinceiros das margens
Murmura o claro Mondego
A noite corre em sossego
Acorda, minha beleza…
ACORDA MINHA BELEZA, modinha portuguesa de Gonçalves Crespo. Em Portugal também é conhecida como Estudantina.
Cuidou da mãe com muito amor e carinho e, mesmo depois de casado, fazia questão de ser ele o responsável de todos os dias, realizar o curativo da ferida que ela tinha na perna. Em sua homenagem, presenteou sua filha caçula com o mesmo da mãe: Filotéia. Assim como homenageou seu pai, colocando o nome Diogo em um dos filhos.
Também cuidou com muito carinho de sua irmã Antoninha durante toda sua vida.
Assim, Teiado foi um menino pobre, que aprendeu muitos ofícios, cresceu como grande homem, construiu uma maravilhosa família, ajudou no progresso de Conceição e “fez milhões de amigos”.
2) Conceição do Mato Dentro anos 20
3) Teiado jovem – 1940
Todos o conhecem por TEIADO, ainda que pouca gente saiba o verdadeiro significado desse apelido. Tomando como referência o nome de sua mãe, Filotéia, mais conhecida como “Téia”, desde criança ele era chamado por Zé de Téia. Quando era jovem, seu amigo João Querosene teve a ideia de fazer um trocadilho: Zé de Téia é Teiado! E a partir daí, este passou a ser seu apelido de domínio público.
Como trabalhou e atuou em diferentes contextos, era conhecido como o Teiado dos relógios, das alianças, das fotos e dos óculos (como comerciante) mas, principalmente, o Teiado do trompete, que marcou a sua identidade.
Como seu pai faleceu quando ele ainda era bebê, sua referência sempre foi sua mãe e, em dedicação a ela, incorporou o sobrenome Marçal como principal, que foi transmitido aos seus descendentes.
4) história da procedência do nome Marçal (?)
5) Teiado e Terezinha noivos – 1956
6) na porta da casa do casal- 1959
7) A Família Ferreira e Marçal no pátio da própria casa – 1965
8) Família Ferreira Marçal e amigos, no pátio da própria casa – 1976
9) Teiado em casa com os netos
uma grande mulher
13)Terezinha – 1975
Terezinha Cândida Marçal nasceu em 18 de junho de 1928 e faleceu em 30 de julho de 1988. Era a quinta, dos oito filhos do matrimônio de Benedito Sérvulo Ferreira e Maria Cândida Vieira. Uma família muito grande e festeira, com descendência oriunda de Cabo Verde (África), Portugal e indígena brasileira.
Terezinha, Tereza para Teiado, Tiru para muitos amigos, foi uma mulher também atuante, dinâmica e com um grande impulso de liberdade. Para ela, não havia “mau tempo” e encontrava solução para qualquer problema. E como ela sempre dizia, “enquanto descansava, carregava pedra”. Muito dedicada à família de origem e à construída com Teiado, quando os últimos filhos já estavam crescidos, aos seus 45 anos, candidatou-se em um concurso público para servente, sendo aprovada e exercendo a profissão com dedicação e carinho. Usando a criatividade, fazia a merenda das crianças da escola sempre saborosas e nutritivas.
Foi sempre uma mulher atuante e participativa, tanto no contexto familiar, quanto da cidade: ajudava no almoço de Natal dos presidiários, no Natal dos pobres promovido por sua tia Maria e nas festas na capela de São Judas Tadeu, no Barro Vermelho. Também teve muitos amigos, sendo generosa com todo mundo. Por exemplo, no período de lactância de seus nove filhos, paralelamente, amamentava outros bebês, tendo assim vários “filhos de leite”.
14)Terezinha – folheto do aniversário de 60 anos – 1988
Aos 60 anos de idade, Terezinha teve um câncer. A notícia foi muito dura para todos. Apesar disso, como a família tinha previsto comemorar seu aniversário, o diagnóstico da enfermidade não mudou esses planos. Terezinha aguentou forte até o momento da festa, a qual foi uma belíssima celebração da vida. Ela sempre falava que se algum dia tivesse que ficar em uma cama enferma, não seria por muito tempo. E assim o foi. Depois dessa festa, quando todos familiares voltaram a suas casas, pouco a pouco ela foi perdendo suas forças, permanecendo viva um pouco mais de um mês. Faleceu de uma forma digna e consciente. Pode se despedir dos amigos, da família e transmitir muita força a Teiado e aos filhos. Uma de suas expressões cotidianas era: “tempo é questão de preferência, não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje”. Ela tinha claro que o “depois” não existe, uma vez que a vida se realiza no presente.
Terezinha foi uma grande mulher de fibra e espírito livre, uma esposa companheira em tudo, uma mãe e educadora admirável, uma amiga para todas as horas. Quando se fala de Teiado, por sintonia se fala de Terezinha.
15)Terezinha último carnaval – 1988
16) Teiado com os filhos em 2005
17)Teiado trabalhando na oficina com relógios e jóias
) Teiado jovem – 1940
4) história da procedência do nome Marçal (?)
5) Teiado e Terezinha noivos – 1956
Teiado e Terziha noivos – 1956
6) na porta da casa do casal- 1959
A Família, para Teiado, sempre fez parte do seu equilíbrio. Foi um ponto importante em sua infância, em seu casamento, na condução da educação de seus filhos e por toda a sua vida. A companheirona de todas as horas, sem dúvida, foi sua esposa Terezinha. Esta sim, foi sua referência maior. Casaram-se em 31 de março de 1950 e tiveram nove filhos – seis homens: Fernando, José Luiz, Wilson (in memoriam), Diogo, Jorge, Cláudio e três mulheres: Maria de Fátima, Inez Maria e Filotéia.
7) A Família Ferreira e Marçal no pátio da própria casa – 1965
Camila, Zé Luís, Jorge, Diogo, Wilson, Fernando, Fátima, Teiado com Cláudio, Terezinha com Inez, Filotéia ainda na barriga
e o avô Benedito, pai de Terezinha
Família unida, alegre, sociável e solidária. A porta da casa sempre estava aberta e vivia movimentada, seja por um favor, visita, festa ou qualquer motivo, todo mundo era sempre bem recebido pelo casal e filhos. Muitas vezes, a simples visita de amigos acabava em festa: quitutes improvisados, muita prosa e música – invariavelmente ao som do trompete e de outros instrumentos tocados por parceiros e amigos. Outras vezes, Teiado começava a tocar o trompete para manter a embocadura e quem passava pela rua parava, entrava em casa e começava a festa. Além, é claro, dos ensaios das serestas ou depois de tocarem pelas ruas e praças da cidade, quando finalizavam a seresta em sua casa, mais um motivo de festa.
Também faziam parte da família as pessoas que ajudavam na tarefa doméstica, como as saudosas Camila e Dorinha que eram irmãs e sucessivamente trabalharam com a família durante muitos anos. Além da sobrinha delas, Maria Madalena e outras pessoas que passaram pela casa.
8) Família Ferreira Marçal e amigos, no pátio da própria casa – 1976
Família Ferreira Marçal e amigos – 1976
Diogo, Chico da Ilha, Fernando, Mariléia, Jorge, Camila, Mário, Osvaldo, Fátima, Cláudio, Wilson, Inezinha, Zé Luís, Filotéia,
Ana Cláudia Peixoto, Inez, Terezinha e Teiado
Família Ferreira Marçal e amigos – 1976
Diogo, Chico da Ilha, Fernando, Mariléia, Jorge, Camila, Mário, Osvaldo, Fátima, Cláudio, Wilson, Inezinha, Zé Luís, Filotéia, Ana Cláudia Peixoto, Inez, Terezinha e Teiado
Esta alegria e carinho familiar são extensivos aos netos.
Fabiano, Lybia, Fernanda, João Augusto, Laís, Tarcila, Fabrício e Tulio
9) Teiado em casa com os netos
Clara, João Vitor, Luiza, Marina e Raphael
A morte de Terezinha em 1988 abalou muito a Teiado e a toda família. E mais ainda quando justamente no ano seguinte, em 1999, faleceu o filho Wilson em um acidente de moto. Teiado permaneceu viúvo durante 20 anos. Mas, apesar da tristeza dessas perdas, a família permaneceu sempre unida e cuidadosa uns com os outros. Desde sempre eles têm uma regra familiar: “Vai, viaja, anda… onde quiser, mas avisa quando chegar em seu destino e mantenha as notícias.”
“Teiado de tantas noites de música bonita pela cidade. De tantas serenatas que inúmeros ouvidos jamais esquecerão. Teiado das boas ações, de carinho eterno. Referência de uma família possuidora de boas pessoas.”
Ricardo Portilho
13)Terezinha – 1975
14)Terezinha – folheto do aniversário de 60 anos – 1988
15)Terezinha último carnaval – 1988
16) Teiado com os filhos em 2005
Apesar da família numerosa, não faltava nada: alimentação, educação digna, lazer e cultura, mesmo com pouco “tostão” (como curiosidade, era essa a expressão usada para referir-se a poucas condições financeiras, quando a moeda à época era chamada de tostão, antes do cruzeiro).
Teiado trabalhava em sua oficina no centro da cidade, onde se dedicava a consertar relógios, fazer jóias e, entre outras coisas, vendia e consertava máquinas de costura e motores de carros. E Terezinha, nessa época, se dedicava aos cuidados dos filhos e da casa, mas também, para ajudar no orçamento familiar, criava porcos para o consumo e vendia linguiça, roupa e, principalmente, os produtos da Avon. Tinha uma grande habilidade comercial e empreendedora.
Dentro da educação dos nove filhos, além do acompanhamento afetuoso, mantiveram o costume da época, que era o de ensinar um ofício aos adolescentes. Teiado, de menino, aprendeu o ofício de relojoeiro e ourives com Zé Costão e Terezinha aprendeu a bordar com suas tias. Seguindo as próprias experiências e regras, cada filho, ao completar os 11 anos, como rito de passagem, tinha que escolher uma atividade como ofício. Essa escolha partia da manifestação das habilidades de cada um/a. Se era uma atividade que os pais não sabiam fazer, eles mesmos procuravam aprendê-la para ensinar, buscavam alguém para fazê-lo ou incentivavam que os filhos buscassem referências.
Fernando aprendeu a trabalhar com ouro, fazia jóias e sempre teve habilidade para as vendas, tornou-se um grande comerciante. Zé Luiz, Diogo e Cláudio dedicaram-se à eletricidade e à mecânica, e também consertavam eletrodomésticos; mais tarde, os dois montaram sua própria oficina de autoelétrica, e Zé Luiz tornou-se funcionário da Cemig. Diogo atualmente toca na mais que centenária Banda Carlos Gomes, em BH. Wilson e Cláudio também se dedicaram à relojoaria durante um tempo, mas seguiram com outro rumo. Cláudio com a mecânica, como comentamos antes, e Wilson formou-se em Letras e se tornou professor e comerciante. Jorge quis aprender fotografia e durante muitos anos se dedicou a ela, ampliando mais tarde seus conhecimentos à informática. Inez Maria e Filotéia acompanharam o pai com a música, fazendo parte da Bandinha Sorriso (sendo que Filotéia toca também na Carlos Gomes). Mais tarde, Inez seguiu os estudos universitários formando-se em Belas Artes, Educação Artística, Arteterapia e fez um doutorado em Arte e Educação em Barcelona/Espanha. Filotéia, conhecida como Filó, com a mesma veia de vendedora e empreendedora da mãe, formou-se em Relações Públicas e em Jornalismo, tendo fundado o Jornal “Pordentro”, que leva informação de qualidade à população conceicionense e da região, há mais de doze anos. Maria de Fátima, como costume da época, teve como ofício o bordado, acompanhando sua mãe, mas, talvez por ter nascido próxima ao aniversário de seu pai, herdou dele muitas de suas características, dentre elas, a área administrativa, se dedicando profissionalmente a ela. Foi funcionária da Minascaixa durante muitos anos e é gestora pública da Secretaria de Infraestrutura do Estado de Minas Gerais. Assim, todos os filhos tiveram a oportunidade de descobrir suas habilidades desde cedo, em casa, dando origem à carreira profissional.
17)Teiado trabalhando na oficina com relógios e jóias
Teiado trabalhando na oficina com relógios e joias – 2001
Por outro lado, Teiado, que já tinha seus ofícios, aprendeu os outros escolhidos por seus filhos. Assim surgiu “o homem dos sete ofícios”: comerciante, garimpeiro, ourives, joalheiro, relojoeiro, eletricista, mecânico, retratista, político, músico… Sua oficina foi se ampliando por conta de cada ofício que os filhos escolhiam. Além disso, um amigo lhe ofereceu a oportunidade de montar uma ótica e ele apostou nesse empreendimento. Não só vendia os óculos como também dava um jeito quando necessitava de um conserto. Os filhos cresceram, mudaram de cidade, mas ele seguia oferecendo os serviços. E assim foi por toda a sua vida.
Até hoje, a Oficina do Teiado mantém sua presença, oferecendo vários desses serviços e, sobretudo, uma atenção carinhosa para tentar resolver a demanda de cada cliente.
Também as heranças habilidosas de Teiado e Terezinha seguem se expandindo por meio dos netos em diferentes áreas, como por exemplo, comercial, empreendedora, artística, musical etc.
Sua musicalidade e seu jeito refinado de lidar com as pessoas, de se vestir, com suas boinas inseparáveis, eram a marca registrada de um homem de fino trato.
Desde cedo, frequentou a capital mineira mantendo um grande vínculo com ela. Despojado e elegante, Teiado sempre marcou estilo próprio. Era simpático e ao mesmo tempo muito generoso, estando disponível a quem fosse e a qualquer momento.
Essa forma alegre e generosa de ser cativava todo mundo nos diferentes contextos de sua convivência. Isso se estendia ao núcleo familiar. Foram os primeiros a ter televisão no bairro, o que era um dos motivos para a vizinhança frequentar a casa com toda a criançada.
Tão pouco podemos nos esquecer do seu Jeep da década de 1950, de apelido “Mosquitinho”, que era um verdadeiro pau pra toda obra. Viajava pelos distritos do município a passeio, a trabalho, para alguma obra social ou política. O carro só andava lotado. Além de carregar toda a família, ainda cabiam os amigos e as panelas com comida para os inúmeros piqueniques no Salão de Pedras, nos rios, cachoeiras e lugares que iam descobrindo. Era muito comum aos fins de semana Teiado chegar em casa e dizer: – “Tereza, sabe o quê? Hoje comeremos fora.” Juntavam todas as panelas, colocavam no Jeep e iam de piquenique.
Era animado, alegre e carinhoso, tanto em casa com a esposa, filhos e netos, como na rua, com quem encontrava.
Sempre tinha em sua casa uma boa cachaça para brindar com os amigos e Terezinha era expert em improvisar um tira-gosto.
Muitas vezes, ele usava uma expressão, de brincadeira, mas que era uma de suas certezas: “a vida é bela; nóis é que complica ela”. Era um artista encontrando solução para qualquer problema.
Além de querer o progresso da cidade e lutar por isso, Teiado tinha seu olhar para os mais carentes e sofridos. Sonhava que a cidade tivesse algum lugar que pudesse abrigar as pessoas que precisavam vir das roças para consultar e depois tinham que ficar pelas calçadas da cidade aguardando a condução para voltar para casa. As portas de sua oficina e casa estavam sempre abertas para essas pessoas que pediam um copo d’água ou mesmo para usar o banheiro.
E não foram poucas as vezes que lhes ofereceu um prato de comida à sua mesa. Ele ligava para Terezinha, Camila ou Dorinha e dizia: “ — aumente o feijão que estou descendo com mais duas pessoas para almoçar.”
Depois que ele partiu, os filhos ao revisar se havia alguma dívida pendente na cidade, descobriram que na loja do Geraldo Pereira, ele sempre tinha uma conta aberta onde pagava por adiantado sacos de cimentos e outros materiais de construção, para que pudesse ser doado a quem o necessitasse. Seu coração era tão grande que fazia o bem, sem fazer alarde.
“Teiado, viveu intensamente, amou, lutou pela cidade, foi grande amigo, companheiro, foi seresteiro, festeiro, presença constante nos eventos onde sempre alegrava a todos com seu bom humor e com sua alegria. Mesmo de longe você será lembrado e será presença entre nós, porque o que você plantou, aqui floresceu, floresce e continuará florescendo; porque a semente boa produz sempre”.
Matutina – 2008
…E se estivesse aqui, ele diria agora: “idem!”.
Essa era outra de suas expressões cotidianas, que dentro de sua simplicidade considerava uma forma de comunicação de intelectual e ilustre..
Como cidadão e amante de suas próprias raízes, Teiado trabalhou espontânea e incansavelmente pelo bem da cidade. Desenvolveu ações que acabaram por beneficiar toda a sociedade local, como a instalação das redes elétricas, de telefonia e de televisão. Chegou, inclusive, a ser o responsável por ir diariamente a Três Barras para conectar a luz que iluminava o município. Carregou, ele próprio, equipamentos pesados para montar a torre de televisão.
Como um dos maiores articuladores da cidade, impulsionou a vinda da primeira agência bancária, nosso atual Banco do Brasil, e o asfalto da estrada que liga Conceição a Belo Horizonte, entre outros feitos.
Para tudo, sempre contava com o apoio incondicional de sua esposa Terezinha e de sua cunhada Inezinha. Quando as ideias não partiam dele, a iniciativa partia de algum amigo ou de Inezinha, como por exemplo a construção da Casa do Romeiro no Matosinhos, a conquista da criação da Casa de Cultura e a preservação do folclore conceicionense.
Clube Social de CMD, Teiado e Inezinha com Célia
(esposa do Chico da Carmem, idealizador, fundador e diretor do Clube, junto com o irmão Eliezer) – 1990
Teiado prestou, ainda, inúmeros serviços sociais e beneficentes, tendo sido, inclusive, um dos incentivadores do Lions Clube e sócio-fundador da Associação Comercial de Conceição do Mato Dentro, hoje ACECMD/CDL.
Nos idos de 1977 foi eleito vereador, período em que reforçou seus ideais. Nas eleições seguintes não conseguiu se reeleger, mas isso não lhe impediu de continuar buscando o melhor para a cidade. Sua vida política não se restringia a uma cadeira na Câmara ou em qualquer outro órgão municipal, pois sua visão política era muito mais ampla, tendo como ideal sempre lutar pelo bem-comum.
Detalhe de um recorte de jornal. Possivelmente na inauguração do monumento no adro do Matosinhos,
desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer – 1988
Indiferente de seu idealismo partidário, tinha bom trânsito entre todos os políticos. Para Teiado, o importante era defender a causa pública.
Leonel Brizola, Zé Aparecido e Teiado.
Inauguração do Altar Monumento do Matosinhos, obra de Oscar Niemeyer – 1987
“Eu trabalhava na padaria do ‘seu’ José e saía de casa às 3 horas da manhã pra fazer o pão e depois vender. Então, eu saía com o ombro todo esfolado. Um belo dia, saí para entregar pão onde hoje é a casa do Raul, e eu punha a cesta na pedreira da Matriz, pois era muito pesada e eu não aguentava. Então, vi uma nota de mil réis no chão e como não aguentava descer a cesta pra pegar a nota, com o dedão do pé mesmo, rodando pra cá e pra lá, consegui alcançá-la. Quando cheguei na porta do Guerra, que era farmacêutico, vi um moço pedindo dinheiro para o Guerra, pois ele era correspondente do Banco do Brasil:
-Oh, Guerra, você não empresta dinheiro, não? _ falava o moço.
-Emprestar não empresta não, só empresta dinheiro no lugar onde tem agência.
E eu estou só escutando… Isso tem muitos, muitos anos. E o moço continuou pedindo e aquilo me grilou. O moço então saiu e eu perguntei:
-Oh, Guerra, estou ouvindo esta conversa aí e não tem jeito de arrumar um banco aqui, não? Uai, o Geraldo Carneiro, filho de Dorival Carneiro, é presidente da carteira de crédito do Banco do Brasil. Isso era, mais ou menos, em 1936. Depois disso, eu fui para o mercado, trabalhei um tempo no mercado…
Então, voltando, eu fiquei conversando. Conversei com o Dr. Djalma Andrade, conversei com o Prego, que trabalhava no banco, que foi meu guia, me dava muitas instruções. Conversei com um, conversei com outro, aí, quando inaugurou os Correios, nós fomos lá para o Sossego, quando era sossego. Perguntei para o Geraldo Carneiro, aqui em Conceição (ele era gerente da carteira de crédito no Rio):
_ Não tem jeito do senhor arrumar um banco aqui prá nós, não?
_ Não é fácil, não! Tem que fazer um levantamento.
Aí eu disse:
– Dá seu jeito lá!
E ficamos conversando. Um dia, chegou um moço para fazer o levantamento da cidade. Andei com esse moço por todo canto. Fomos ao Serro… Eu sei que mexeu os pauzinhos, daqui e dali, veio o cofre, foram olhar o lugar, olhou a casa e acertou. Foram chegando os materiais, os móveis e, aos poucos, foram se ajeitando. Veio o gerente e estava no ponto de inaugurar (era novembro) e perguntou:
-Você topa uma viagem comigo lá no Rio, porque eu estou pelejando para marcar a inauguração e não consigo e tem que ser novembro, se não tem que ficar para o próximo ano.
– Topo sim, vamos embora _ respondi.
Eu tinha um jipe e ele tava no jeito pra viajar. Assim, às 3 horas da madrugada nós ‘rapamos’ para o Rio. Quando chegou lá perto de São José d’Almeida, faltando um quilômetro, mais ou menos, o pino da barra de direção quebrou.
_ Vamos voltar pra ver se a gente acha o pino _ falei.
Coloquei ele no lugar até chegar em São José d’Almeida e procurei uma oficina porque a gente ia pra longe. Antes de chegar a Belo Horizonte, o carro começou a fazer um barulhinho e perguntei para o Faria se ele estava escutando um barulho diferente e ele disse que não. Paramos para tomar um café e, enquanto isso, eu fui olhar o carro. Eu disse para o Faria que nós devíamos voltar pra Belo Horizonte pra ver se o carro tinha condições de seguir a viagem. Antônio Faria era o gerente. Ele era de Diamantina. Eu andava com esse jipinho pra baixo e pra cima. Aí, voltamos a Belo Horizonte. Eu fui pra oficina e ele foi para o banco pra ver se conseguia falar no Rio. O rolamento do carro tinha quebrado, aí não ia mesmo, não chegava, teve que trocar o rolamento. Fui para o banco e falei:
– Faria, tá no jeito, agora vai.
_Agora não precisa mais, pois eu já falei lá no Rio com a direção e eles marcaram a inauguração do banco para o dia 30 de novembro _ respondeu ele.
No dia 30 de novembro a cidade encheu. Comemos muito churrasco no posto. Foi aquela festança toda. No outro dia, o Dr. Duarte disse:
-Agora nós temos que fazer uma reunião pra tratar do telefone…
Pois, até então não tinha. Quem ‘botou fogo’ fui eu. Aí reunimos lá no clube pra tratar do assunto do telefone e perguntei se não tinha jeito de formar a diretoria.
_ Uai dá!_ responderam todos.
E, então, fizemos a votação: fulano de tal presidente, tesoureiro, secretário e aquela coisa toda. O senhor Juvêncio Policarpo Moreira estava lá. Era um homem muito importante. Eu não fazia nada sem ele. Ele me instruía demais. Então ele escalou o Nilo (da dona Ziquinha) e o Zé Pedro da Silva (ele trabalhou muito tempo no IBGE daqui de Conceição) pra ver o negócio do telefone. Então, ele foi indicado para ser presidente da companhia telefônica.
Tinha uma companhia lá em Belo Horizonte que juntava os telefones pra nós aqui por mil cruzeiros. A gente entrava com 270 e ia pagando 27 cruzeiros por mês. Aí, eles começaram angariando daqui e dali e quando chegou no Zé Abrantes, que era presidente da Minas Caixa, chegou ‘a faca no peito’ e falou:
-Quem é que é responsável por isso? Tem que dar um crédito de confiança pra companhia. Ela está fazendo um serviço em Martinho Campos e tal.
Então, nós fomos lá saber a credibilidade da companhia. Quando chegou lá na oficina, me lembro como se fosse hoje, o Nilo mais o José Pedro disseram:
-Oh, Teiado, foi tudo por água abaixo. O Zé Abrantes chegou a faca no peito…
Então eu disse:
-Que é isso! Nem começou a trabalhar e já está esmorecendo? Vamos arrecadar sim! Aí fizemos o negócio com a companhia. Aí o dinheiro arrecadado não dava, tava faltando um pouco, mas a gente conversa com o pessoal da companhia e eles esperam mais uns dias pra dar entrada. Chegou o dia, o prazo que a gente marcou pra dar a entrada e o dinheiro ainda não dava. Aí comunicamos com ele e eu estava numa roda lá no hotel do Antônio Geraldo conversando, eram umas 9 horas da noite, mais ou menos, quando recebi um telegrama do Juvêncio Policarpo escrito assim “Paguei sinal. Juvêncio Policárpio”. Ele foi lá pedir mais um prazo…
Ah, Conceição não tem palavra, quero negócio com Conceição, não! Juvêncio, por ser conceicionense falou o homem da companhia.
Daí o Juvêncio disse que falou assim: _ Conceição tem palavra sim. O senhor dá licença de eu entrar aí e fazer um recibo.
Então, ele pagou o sinal lá, pagou a entrada. O pessoal teve que ‘pular’ pra acabar de arrumar o dinheiro pra pagar ele.
Você entendeu, né? Arrumou um milhão de cruzeiros e passou o cheque. A companhia chamava CONTECO. Foi tudo muito difícil. Então, eles montaram outra companhia e foi outra festa, com telefone nas casas.
O Banco do Brasil foi inaugurado em 1963. Fez 40 anos aqui. Merecia uma festa, né? Quando ele fez 30 anos nós fizemos uma festa. O Zé Aparecido mandou fazer..
Trecho do livro de Flávia Lages – Histórias Vividas e Contadas de Conceição do Mato Dentro – Editora Roma 2022 p.297.
O relato acima foi dado por Teiado à autora em junho – 2005
Inauguração do Banco do Brasil – Teiado, Terezinha, Inezinha e Irmã Susana – 1974
Essa imagem é uma mensagem que Inezinha enviou a Fátima Marçal, comentando os feitos de seu pai. O texto assim expressa:
Maria de Fátima,
Esta lembrança de nós quatro para você, lembrando o dia 15-04-74, a inauguração da sede do Banco do Brasil S/A, em Conceição do Mato Dentro.
Seu pai está com um sorriso amarelo, com muita razão. Está emocionado pelo discurso do Sr. Juvêncio Policarpo, que disse ser ele que lançou a semente quando em 63 fez um abaixo assinado pedindo uma agência do Banco do Brasil em nossa terra.
Depois do discurso, fomos abraçá-lo porque hoje a semente germinou, cresceu, floriu e está aí o fruto do seu trabalho. O homem humilde, sem brasões, mas que tem amigos políticos. Assim também ele conseguiu a Torre de Televisão e o telefone. Isto servirá de exemplo para sua geração.
Abraços,
Inezinha 30-04-74
Teiado trouxe o telefone para Conceição.
Insatisfeito com o desempenho da antiga TeleMinas e contando com o nosso acesso à Telemig, ao concluir o curso de engenharia, fui intimado a resolver a situação junto a essa empresa.
Uma ata foi elaborada em busca de resolver a situação. Reunimos, eu, Teiado, Zé Lages, Frei Isaías, dentre
outros, no Éden Clube, para início dos trabalhos promissores com o propósito fixado. Levados à presença do vice-presidente da Telemig, Dr.
Após estudos de natureza técnica e viabilidade compatível, conseguimos deslocar uma central telefônica do tipo P-15, da cidade de Monte Santo de Minas para Conceição do Mato Dentro. Eu, Teiado e Zé Lages conseguimos a tão almejada central telefônica.
Feliz aniversário Zé, muito obrigado por permitir ser seu parceiro em muitos eventos que saberei guardar até o nosso encontro junto ao Criador espacial.
Seu amigo, aluno e admirador,
Zezito Correa
Aluno do mestre de música Janjão Rodrigues, da Banda de Baixo, com quem começou a tocar o trompete, desde jovem, Teiado chegou a ser maestro dessa mesma banda e da Banda de Cima. Mais tarde foi professor de instrumentos de sopro da Bandinha Sorriso, do maestro Frei Gabriel de Melinni, sendo o grande acompanhante do Frei e da garotada.
Músico inveterado, as serestas, os bailes, os ensaios e as apresentações da banda e do coral tocavam fundo a veia artística do maestro Teiado. Assim, sua presença era socialmente solicitada em todo tipo de festa: de batizado, aniversário, casamento, baile, festival, carnaval, a festas religiosas, sem falar nas rodas dos bares da cidade. E não podemos deixar de nos recordar dos toques metálicos e doces que animavam os carnavais de rua e também os bailes nos clubes Éden e Social, que convidavam a plateia a dançar.
Carnaval – 1959
João Portilho, Nilo, Teiado Joaquim Pinto, Tony Pinto, Moreira e Levy de Olavo
“Teiado traduz no trompete cinco notas com doçura.
Emboca a dura tarefa de manter a embocadura.”
Cadinho Faria, poema “Sábio Teiado”, do livro Conceição – bares, lugares, pessoas.
José Fernando Aparecido de Oliveira, como prefeito de Conceição em 2008, num programa da rádio Bom Jesus, expressou:
“Teiado despertava romantismo através das serestas com seu trompete mágico”.
Conceição do Mato Dentro, março de 1979. Sexta-feira, final de tarde, e Sô Teiado fecha a loja, pensativo nas encomendas daquele dia. Quando a ótica tinha movimento fraco, a seção de ourives compensava com bons pedidos. Às vezes era o setor de fotografias que ajudava no caixa. O final de semana prometia ser dos melhores.
Trajando um terno de bom corte, tradicional boina e no pulso dois relógios para acertar a hora um com o outro, desce, a pé, apressado, a rua principal da cidade: faltara combustível no posto São Judas e o Jeep teve de ficar na garagem naquele dia. Era até bom, porque o carro andava apresentando problemas com frequência e ele estava precisando mesmo caminhar um pouco.
Caminhava e pensava no pedido da caçula: ela queria, porque queria, uma boneca de roupas azuis que teria visto na vitrine da lojinha do compadre Chico Tá Pronto. Teinha, com 12 anos, não abriria mão daquele mimo e ele precisava passar lá antes de chegar em casa, onde a esposa Terezinha preparava o jantar daquele dia: sopa de inhame (colhido no quintal), refogado com caldo de carne. De sobremesa, ela fizera Papo de Anjo na calda de açúcar queimado e queijo branco.
Quando chega na loja do Chico Tá Pronto, Sô Teiado se depara com a turma de amigos seresteiros, que já combinavam uma noitada daquelas. Não pensou duas vezes, comprou a boneca da filha e rumou para casa.
Agora, os pensamentos se voltavam para o trompete, que precisava de uma boa limpeza, porque a saliva que se acumulava nos pistões do instrumento estavam comprometendo sua afinação e uma coisa dessas era inadmissível numa seresta de fim de semana.
Jantaram, colocaram a prosa em dia e foram se aprontar para a noite. Sim, foram – no plural – porque era impensável ir para a seresta sem a companhia da esposa, uma das maiores entusiastas das serestas da cidade.
Sô Teiado pega o estojo do trompete e… cadê o instrumento? Procura daqui, olha dali, abre armários, fecha armários, procura debaixo das camas, olha na cristaleira da sala e nada. E então ele se lembra de que havia mandado o trompete para Belo Horizonte para ajustes e um banho de ouro, por causa do desgaste das peças.
Situação que foi uma verdadeira ducha de água fria. Mas, quando todos já imaginavam que naquele dia não teria o sopro e o som do trompete de Sô Teiado, uma surpresa: chega da capital o amigo Zé Aparecido, que comprara no exterior um trompete da marca Coroa, adquirido em New Orleans (USA).
Muitos ainda se lembram daquela última sexta-feira de março de 79, a melhor seresta de todos os tempos. Por isso, continuam se reunindo na casa de Matutina, só que agora, em frente à escultura esculpida pelo artista plástico Grilo, numa homenagem ao maior, melhor e um dos mais queridos habitantes de Conceição do Mato Dentro, o trompetista Sô Teiado.
Alexandre Mota- crônica publicada em setembro de 2009
Jornal Pordentro – fundado por ele e Filó Marçal.
Seresta – 2000
Teiado, Grilo, Renatinho e Lima
O trompete sempre foi seu companheiro inseparável para curtir os momentos entre amigos e músicos, seja em sua casa, nas praças ou em qualquer outro lugar.
“Cala o pistom… E com ele, nosso coração perde um pouco de musicalidade da qual, com certeza, num céu preparado para todos nós, todos voltaremos a ouvi-lo, um dia.”
Ricardo Portilho – mensagem pelo falecimento de Teiado 2008
E é nesse sentido, que ele recebeu tantas homenagens em vida.
Teiado estava presente nas diferentes atividades sociais da cidade, tanto de cunho político como lúdico.
Fazia parte do Lions Clube, com atuação constante, não perdia uma viagem do grupo.
Convenção do Lions Clube – São Lourenço/MG – 2005
Também era fã e frequentador assíduo do projeto de plantas medicinais promovido pela Pastoral da Saúde.
2003 – Era quase final da 1ª Caminhada – Bom Jesus do Amparo a Córregos. Íamos pernoitar na Fazenda da Socorro Utsch e Darlan.
A noite está fria. Duas fogueiras são acesas.
A lua aparece no céu, que se enche de estrelas, as mais brilhantes de MG. Sempre achei que o céu de Conceição brilhava mais do que todos os céus que conheço.
Noite, lua, fogueira, frio, quentão, aconchego… Só faltava Teiado que, nos seus 80 anos, chega de surpresa, com seu piston de ouro e grupo de seresta, tocando e cantando quase em oração:
Meu violão em seresta,
celeste é o luar,
a natureza em festa,
tudo parece cantar…
A alma viaja léguas, vergada de histórias de séculos, lembranças que transbordam da mochila. TEIADO permanece dentro.
Diva Dorothy, trecho do livro Estrada Real, Viagem de Muitos Caminhos, onde, como Caminhante, faz referência ao amigo TEIADO.
De CMD para as cachoeiras, para Materlândia, para Brejáubas, para os diferentes estados do Brasil, mas também para o Uruguai e a Europa, Teiado e Terezinha sempre gostavam de viajar.
Foram várias as viagens com a família, a Bandinha Sorriso e diferentes amigos. Nelas, sempre havia o prazer, a alegria de novas descobertas, as coisas divertidas que passavam e grandes aprendizagens.
Católico de berço, fez parte do Movimento Familiar Cristão e, como músico, tinha participação atuante no coral que cantava nas celebrações das igrejas da cidade.
Tanto com Terezinha, como com a sua cunhada Inezinha, Teiado era presença marcante em todas as iniciativas de organização de festas de cunho religioso e folclórico.
Teiado estava sempre ativo nos seus afazeres, sempre animado a qualquer momento, gerava situações divertidas e outras como travessuras de uma “criança eterna”.
Em abril de 2004, uma comitiva de cavaleiros partiu de Diamantina com destino a Paraty, participando do evento Expedição Diamantina-Paraty, revivendo a Estrada Real, um percurso de 887 km. A comitiva passou por Conceição, parou no Largo do Rosário, para prestar ao Teiado uma homenagem. Da varanda, ele se despediu do grupo, desejou-lhes boa viagem, recomendou a Bom Jesus que a empreitada terminasse bem.
No mesmo dia recebo uma ligação em Niterói. Era o homem de muitas ideias, com um pedido inusitado:
– Geralda, arranje passagem de Niterói para Paraty e um hotel para nós. Preciso estar lá de hoje a 17 dias.
– Hein? Por quê?
– É que hoje passou por aqui uma cavalgada que está indo participar de uma festa em Paraty. Quero fazer uma surpresa e estar lá na chegada dos amigos.
Por mais estranho que fosse, não poderia deixar de atender a este pedido. Liguei para hotéis e pousadas, mas todos já estavam com lotação esgotada pela ocorrência da festa. Lembrei-me de um amigo que tinha se mudado para lá, morava num quarto e sala e se dispôs a nos receber.
Teiado chegou a Niterói, no dia seguinte partimos de ônibus para a cidade histórica e, na véspera da chegada da comitiva, já estávamos lá. Os cavaleiros almoçariam num ponto da estrada antes de entrarem na cidade. Rumamos para o meio da estrada. Encontramos o cozinheiro da cavalgada e seus auxiliares que tinham aberto uma clareira ao lado da rodovia para instalarem a cozinha (vêm sempre na frente trazendo o farnel em burros de carga). Preparavam o feijão tropeiro.
As horas foram passando sem sinal de cavaleiros. Teiado não escondia a ansiedade e a aflição pela demora. Até que… até que o barulho dos cascos batendo no asfalto nos avisou que estavam chegando. A satisfação do meu amigo eu não sei descrever. Cumprimentou pelo nome o 1º cavaleiro que chegou e os outros que vinham em seguida. Ao mesmo tempo, sentimentos de susto, surpresa e alegria. Os participantes da cavalgada custavam a acreditar no que viam. O amigo Teiado, ali, no meio da estrada, fazendo as honras da casa.
Após a recepção oficial e o desfile pela cidade, fomos recebidos para um lanche em palácio pelo príncipe D. João de Orleans e Bragança, representante da família real no Brasil e morador ilustre de Paraty. José Marçal dos Santos, para nós muito mais ilustre do que o príncipe, admirado, comentava comigo o fato de estar sendo recebido num palácio. Não imaginava que príncipes fossem pessoas tão simples como D. Joãozinho como é chamado carinhosamente. Durante o chá, conversaram sobre os acontecimentos da viagem. Sua Alteza conheceu a história surpreendente da empreitada de Teiado e o cumprimentou pela proeza.
Geralda Malaquias (2023)
José Marçal dos Santos, “Teiado”, foi meu “chefe” nos três últimos anos de sua vida. Ele fez, comigo e a neta Laís, a última compra de produtos para a ótica. Comigo foi visitar, também, o mais recente neto – João Victor, ainda na maternidade, em Belo Horizonte. Fez a última compra para o estoque da Ótica. E muito mais…
Na verdade, Conceição do Mato Dentro perdeu seu Cônsul, depois de ficar sem o Embaixador Zé Aparecido. Teiado era incrível: se não tinha “letras”; nasceu com o “dom do saber”, principalmente a história de Conceição, fosse de sua arte, política, economia, folclore e dos conterrâneos em geral.
Aos 85 anos, “não entregava o ouro de forma alguma”, a ponto de forçar a gente a acompanhá-lo em suas travessuras. Ainda em 2007, com boa saúde para uma pessoa aquela idade, ele assustou a gente: a glicose subiu como um foguete. Os filhos o levaram imediatamente para Belo Horizonte. Medicado, passou apenas uma noite e um dia internado e tratou de volta para sua Conceição. Já estava “bom pra outra”.
Ficou de repouso um dia. Cheguei na manhã seguinte. Os filhos lá, uns dando os medicamentos, outros providenciando o farmacêutico para aferir a pressão; um resolveu olhar a temperatura, por achá-lo meio prostrado.
– Também pudera! Com tanta gente me paparicando acabo virando um bebezinho, quer ver? Olha aí febre de menino, 39 graus. Só falta me darem uma picada no dedo para ver a glicose e voltar comigo para Belo Horizonte.
E não é que ela estava a 600. O normal para ele, diabético, seria até uns 300. Como um ramo da minha família é diabética, perguntei ao pessoal: ele não toma insulina, né? – Não, mas concluíram. Dessa vez os médicos prescreveram uma dose que já aplicamos hoje cedo.
– Ah! Então, Teiado, vamos queimar essa insulina a mais que ocê tomou. A gente vai botar a conversa em dia, ali no banco do quintal, ou na varanda. Enquanto você toma um banho morno e tira o pijama, vou dar um pulo ali no Eduardo, parece que estou ouvindo a banda ensaiar. Sugeri. Tá legal! – respondeu.
Ao descer, parei no posto quando a proprietária me alertou: olha quem está aí atrás de você. Pelo retrovisor, reconheci o Voyage de José Marçal dos Santos. Não disse? “Não entregava o ouro”. E fomos assistir ao ensaio. Depois, foi à ótica concluir um par de alianças com entrega marcada para a semana seguinte. E finalizamos a manhã com uma caminhadinha na avenida, ele já recuperado e com fome. Fomos almoçar.
Só no ano seguinte, 2008, ele adoeceu de fato. No intervalo de uma das internações, fomos a Conceição no meu carro. Certo dia fui levá-lo, pela última vez, para resolver problemas no Fórum, Prefeitura, Bancos etc. Ver como andavam os negócios. Estávamos de táxi. Muita burocracia. Na volta, ao chegar em casa, quis segurá-lo até a varanda, para descansar na poltrona onde gostava de prosear. Me mandou pagar o táxi: eu vou sozinho.
Teiado deu dois passos. Estava firme. De repente, estou pagando o motorista, que me alertou: olha lá, seu Teiado caído!. Nós dois corremos, levantamos o mestre que sacudiu a cabeça dizendo que estava tudo bem: – Foi aquela diaba da escada da Prefeitura. Pede a Dorinha trazer água e botar a mesa pra nós almoçar. Depois da água, frango com quiabo e angu.
O pior estava por vir. Era um sábado. O chefe me colocou numa sinuca de bico: Tonzé, amanhã nós vamos fazer um passeio diferente. É domingo, vou te levar pra conhecer uma roça lá perto de Ouro Fino, terra de seu falecido pai. Mas tem que ser no meu carro. Dorinha, a secretária, ia embora mais cedo aos sábados, mas na segunda-feira me adiantou: cês vão ouvir por ter tirado esse carro da garagem, domingo. Isso vai dar. Eu previa:
– Meu chefe, sem chance. Nunca peguei e não consigo guiá-lo, ainda mais naquela estrada – despistei.
Era engraçado, porque eu o respeitava e ele, 20 anos mais velho, às vezes, me obedecia também. Daí ter nascido uma amizade tão leal, honesta e franca.
– Mas quem disse que você vai dirigir o Voyage? Cê só vai ligar. E eu já saio da garagem no volante – disse Teiado animadíssimo, feliz da vida.
Eu pensei e não tive dúvidas: liguei pro Cláudio para avisá-lo que o pai dele queria mudar de ares e iríamos para a roça, no carro dele, o Voyage, dirigido por ele. O telefone fixo não atendeu e o celular estava fora de área ou desligado. Mais tarde soube que Cláudio tinha ido a Dom Joaquim. Azar meu!… Mais uma vez Teiado venceu… (parecia).
Tomamos café bem cedo e descemos pra garagem. Ele me deu a chave do carro. Não pegava de jeito nenhum. Quis convencê-lo a fazer outro programa naquele domingo, mas ele insistiu. Abriu o capô, mexeu nos cabos, olhou se não havia nada oxidado: agora ele tem que pegar. Sentou lá, como se fosse me desafiar. Virou a chave e nada. Só então se convenceu que o carro – parado há meses – já não tinha bateria.
E o Sr. José Marçal dos Santos insistindo: esse carro vai pegar é no tranco. Vou chamar uma pessoa da minha confiança e pedir para ajudar você empurrá-lo pra aqui abaixo e quando chegar lá perto do depósito de bebidas ele já estará urrando. Espera aí…
Sentou, olhou para um lado, pro outro. Botou a mão no queixo até lembrar quem entraria no bolo: vou chamar é o Peroba – Lembrou, esquecendo-se que o moço estava recuperando-se de uma fratura no pé: ele já sarou – argumentou, enquanto acionava o moço pelo celular.
Não falei? – Já tá bom feito um coco. Vem lá e com um companheiro – Teiado ficou numa animação que há muito não se via. Mas foi uma lástima: empurramos o carro ladeira abaixo com Peroba no volante. Nada. Paramos na metade do morro para ele abrir o capô e chegar à conclusão que tinha algo diferente no carro que ele sempre dirigiu quando Teiado pedia.
Aí, eu fui à casa do chefe, a pé, para dizer-lhe que o carro não pegava. – Então, empurra mais e deixa ele ao lado daquele depósito de cerveja. Se alguém mexeu, conserta e traz de volta.
Não foi uma; não foram duas, nem três vezes que já desfalecido, com a pressão muito baixa, ou a glicose muito alta, eu entrava no apartamento e perguntava: o que está acontecendo, chefe? – ele respondia, amanheci meio esmorecido, mas acho que era o frio. Já passou. Agora o sol já está saindo; vamos dar umas voltas no corredor? E logo tirava virol, cobertor, meias, calçava a sandália me dava o braço e saía mexendo com as enfermeiras – atônitas -, médicos, pacientes e ia até uma cadeira onde o sol batia. Lá, me perguntava sobre as novidades, se tinha notícias de Conceição. Quando ele ficava nervoso ou meio pra baixo, eu tinha o remédio ideal: falar de política e dos projetos para Conceição.
A política era outra arte de Teiado, além da música. A que o tornou, para esse modesto jornalista, o cônsul de Conceição do Mato Dentro: a luta em ver o progresso da cidade, acima da política. Quantas vezes, o vi discutir ao telefone com secretários de seu amigo Zé Fernando, por não liberar verbas para a Banda participar de encontros; ou de saber que estava havendo dificuldades para o produtor realizar uma melhor estrutura para o “Projeto Matriz”. Cobrava a reforma do campo de futebol do presidente, por “interurbano próprio”. Ele prometeu, agora tem que cumprir.
Foram vários papos e momentos de música. A gente ia para a varanda e nem ligava para as broncas da secretária Dorinha: o piston do mestre, a flauta ou saxofone de Zezito, e meu violão, acompanhando ou “perseguindo”, soavam longe.
Teiado pouco a pouco foi perdendo as forças, se desprendendo de seus ofícios, até que no Jubileu de 2008, com muito esforço se despediu do Bom Jesus e do trompete. Quando estava no hospital, eu ia visitá-lo e me perguntava: _ Como tirá-lo dali? – não sou médico e nem tenho a força de um filho para reunir a turma para a gente montar uma estrutura em sua própria casa, já que a assistência em BH foi nota 10, tanto do hospital, quanto dos filhos e da equipe médica. Mas Conceição, é Conceição…
Eu não tinha o que fazer, nem prometer nada, a não ser “sacar” para animá-lo e lhe disse: _ “Seu aniversário é no dia 28 de agosto. Então, no dia 25 nós vamos e em 03 dias preparamos a festança dos 86 anos do Cônsul de Conceição do Mato Dentro”. Ele, feliz: “combinado, êêêê”.
Às 23 horas do dia 24, o telefone toca e Fátima, filha dele, me avisa: “sua previsão se confirmou – ele chega mesmo no dia 25 em Conceição, mas já descansando em paz”.
Foi embora, ah! Teiado era incrível…
Trechos da crônica de Antônio José do Nascimento Souza -Tonzé (2010)
Não temos conhecimento se Teiado teve algum inimigo, somente que era amigo de todo mundo. Talvez uns mais próximos que outros, mas seria impossível citá-los todos aqui. São muitas boas lembranças que compartilhamos todos.
A cada amigo que partia para a outra vida, Teiado suspirava e dizia: – “Estamos todos na fila e essa vai avançando.”
Sonhos de menino, muitas recordações, a Igreja, o coreto, a Banda do Janjão.
Os cachorros do Geraldo Moreira, o Tio Hely, o Benedito de Mattos, o Tio João de Mattos meu professor de palavras cruzadas, a Dª Guiomar, a Maria Tatu, o Zé de Orlando, pai do meu amigo Darci, outras tantas e tantas e muitas outras mais pessoas, povoavam e alegravam o Largo do Rosário.
O Sr. Zé Pinto da Dª Sinhá, com tantos netos, filhos do Sr. Joaquim Pinto e da Dª Didina.
A Dª Júlia do Benedito Barra, Pai do Titoni, meu amigo particular, companheiro junto com o Wander Safe, e o Fernando Peixoto em noites de serenatas ao luar.
Os festeiros de primeiro de Janeiro: Rei e Rainha, muita festa, muito doce, muito luxo.
O céu do Largo do Rosário clareava com os fogos, era muita festa e muita alegria.
O Zé da Guiomar, o Sr. Antônio Thomaz, mestres da marujada que me faz lembrar do saudoso Simião: “Oh cadê Simião? Ele já chegou , oh galinha de pinto, xô xô…” era a marujada alegrando a festa.
O Sr. Chiquinho Mariano, com toda a habilidade em artes manuais em madeira, a Dª Ilídia, minha professora de aulas particular, sem cobrar um centavo sequer, a ela toda a minha gratidão.
A Tia Anita, mãe do meu querido e inesquecível Raul, quanta bondade.
Que saudade do meu querido velho Teiado e da minha mãe querida Dª Terezinha…
O Zé Carlos de Mattos, que me ensinou andar de bicicleta, o meu amigo Aníbal (Bimbinha) que me ensinou a dirigir.
É muita coisa e muita história…É a saudade que veio bater na minha porta.
Salve salve meu Largo do Rosário, salve meu povo!!!
Fernando Marçal (primeiro filho de Teiado e Terezinha)
Como seres humanos, nossa história de vida não se inicia quando nascemos e, sim, vem sendo traçada pelos nossos antecedentes. Vocês que estão chegando agora, não conheceram fisicamente Teiado e Terezinha, mas como família, levam no sangue a marca de uma linda trajetória de vida e, como conceicionenses, possuem um rico patrimônio cultural. O amor, respeito, humildade, companheirismo, alegria e criatividade com que este casal compartilhava a vida, é nossa maior herança e legado que podemos passar aos nossos descendentes.
Para ambos não havia “tempo ruim” para realizar o que a eles cabia. Seja na criação de seus nove filhos, no trabalho, na oração, no cuidado com o outro, no compromisso social, nos piqueniques e serestas improvisadas, nas festas, nos momentos de sufoco, de contrariedade, de dor, na vida diária. Ao lado de Inezinha, sempre se preocuparam pela união de toda família, como também pelo progresso e preservação cultural de nossa cidade. Nos contavam suas histórias e as tradições familiares.
Todos os anteriores escritos aqui expressados, narram pequenos detalhes de suas trajetórias, onde ambos mantiveram uma grande dignidade até o final de suas vidas.
Teiado, no hospital, dias antes de falecer, indiretamente escolheu a música que hoje é, para nós, o seu hino. Sim…
Olhai pro céu,
Vê como está lindo o luar.
Parece que as estrelas
Estão brincando em volta da lua
Que reflete lá no mar.
Também no céu da minha vida,
Você foi uma estrela
Que tanto brilhou,
Mas numa noite linda
Você foi embora
E nunca mais voltou.
(Autor desconhecido)
A morte é a única certeza que temos na vida, apesar de que nos seja dura. E como a vida é sábia, a enfermidade foi o motivo para nos prepararmos para o momento de separação. Realmente, nos seu últimos anos, percebíamos que pouco a pouco ele foi se deixando levar com alguns de seus grandes amigos que partiram, entre eles a sua querida Terezinha, seu filho Wilson e mais: Bruno Pires, Djalma Andrade, Adão Costa, Moacir, Antônio Bruno, Tia Antoninha, Camila, Antônio Geraldo, Tia Inezinha, Chico da Ilha, Zezinho, Tia Ritinha, Maria Guerra, Dr. Juvêncio, Zé Aparecido…
Sim, naquela mesa, festa, seresta, missa, casa, cadeira, lugar… estarão “faltando ELES e a saudade DELES sempre dói…” Mas, também está a certeza que isso também é vida e que aqui ficam as lembranças.
Não resta a menor dúvida sobre a honra de ser filho, nora, genro, neto e amigo de Teiado e Terezinha. E como mãe disse ao também se despedir: “em nossa casa a união e a alegria sempre foram motivo de nossos encontros e que continuem assim”.
Eles cumpriram dignamente a passagem por esta vida, entregaram as habilidades que neles se expressaram e agora nos cabe realizar o que nos compete.
“Obrigado, Teiado!
Sua vida foi uma grande lição. Nós lhe devemos muito e lhes somos agradecidos. Você foi presente que o Criador nos legou.
E agora já não há mais dor, só os afagos da Mãe e o olhar amoroso do Pai.”
Matutina – 2008
24 de agosto de 2008,
…neste dia, os familiares, amigos, conterrâneos, enfim, Conceição do Mato Dentro se despediram de um grande homem, o “Teiado”.
Ele marcava presença com o seu inseparável piston em praticamente todos os eventos culturais, religiosos, particulares e sociais de toda cidade e região.
“se expirou uma nota musical para se eternizar na memória da melodia conceicionense”
Delmiro Portilho – 2008
Essa frase expressa o verdadeiro sentido da passagem de Teiado por nossas vidas. Realmente foi uma estrela que no nosso céu brilhou! E desde sua dignidade e coerência ante à vida, segue sendo uma estrela de referência a muita gente.
Ao longo da vida, Teiado recebeu muitas homenagens. Eis aqui algumas delas:
Graffiti no muro da Câmara Municipal de CMD – 2020 artistas
Wemerson da Silva (Wera), Jessé Eduardo (Othu) e Hermanick Costa (Hc)
Chão de Estrelas – escultura de Paulo Virgílio (Grilo) – 2023
Dentro da programação dos 321 anos de Conceição do Mato Dentro, no dia 8/12/23, foi inaugurada a escultura Chão de Estrelas em homenagem aos conceicionenses – Terezinha Utsch e Teiado como músicos – e ao embaixador José Aparecido de Oliveira. A obra está situada na Travessa Ana Tadeu no Largo do Rosário.
A família na inauguração da escultura Chão de Estrelas – 2023
“A arte e a dedicação se entrelaçam em uma obra que reflete o brilho das estrelas e a grandiosidade das personalidades homenageadas”.
O projeto é da Secretaria Municipal de Cultura e Patrimônio Histórico em parceria com o artista plástico Grilo e surgiu para promover, valorizar e preservar a história de Conceição do Mato Dentro.
Miguel Safe
Das Minas, rios, das serras,
o garimpar do fugidio ouro,
do ouro bruto, em fogo,
fiar o fino fio do ourives,
ah! delicadas filigranas, firme aliança!
E das pequenas engrenagens – o pendular do tempo-,
saber das máquinas, ler a entranha dos motores,
tirar da água, luz, engenhos de energia!
Maestro ,
Mestre das alvoradas
do despertar da cidade,
do carnaval e festas,
a alegria
vibrar do som na surpresa
da emoção no chão do Mato Dentro.
Seresteiro ,
piston a gorjear a vida, amor,
surdina a soluçar saudade,
“Telhado” da nossa infância,
abrigo garantido, eficiente,
onipresente, em acudir a gente.
Nas terras do Rosário,
do Senhor de Matosinhos,
nosso ninho, cerne, santuário,
terra de versos e de cantos,
está na lembrança, no cair da tarde,
no cantar do vento,
-encantou-se!-
o sempre ZÉ de TÉIA,
José Marçal dos homens e dos Santos
Wander Safe
Amigo querido por todos,
alegrou a vida com música,
com lindas canções, serestas, saraus,
na magia das festas e carnavais.
Embalou emoções, arrastou multidões,
com sopro poético tocou corações,
encantou lugares por onde passou,
se eternizou em nossas lembranças.
Diva Dorothy
Homem presente em todo lugar!
Polivalente… fazia de tudo:
– motorista, carregava quem dele precisasse, para onde quer que fosse;
– eletricista, socorria na hora do aperto;
– ourives, lá estava ele, perpetuando sentimentos através das alianças,
dos anéis, dos broches de ouro puro, sendo ,ele próprio , jóia preciosa.
Quanto à música, tirava o sentimento do vento,
e a melodia vinha do sopro profundo da garganta musical,
e a alegria, ele a espalhava nos velhos carnavais.
Cadinho Faria
Teiado tecendo ternuras
no tear da convivência.
No olhar , a mesma candura
Paz de sua longa vivência.
Teiado traduz no trompete
sete notas com doçura.
Emboca a dura tarefa
de manter a embocadura.
Homem de visão, oculista,
vende a prazo o bem pra vista.
No alto de seus oitenta,
ainda tenta, ainda conquista.
A celebração do Centenário de Teiado relembrou a identidade cultural e patrimonial de Conceição do Mato Dentro. O evento contou com exposição, apresentações artísticas e audiovisuais e, ainda, lançamento do projeto CMD em Memória e site de mesmo nome, onde Teiado e sua esposa Terezinha são os primeiros aclamados. Foi uma mescla de afetividade, promoção da cultura e de reconhecimento
do desenvolvimento da cidade, a partir da trajetória desse visionário.
Centenas de pessoas, entre conceicionenses locais e ausentes, autoridades do município e de outros vizinhos, amigos de Conceição, população em geral, turistas, pessoas de fora do país e de diferentes localidades, tanto por via presencial quanto virtual, acompanharam a festividade de perto ou de longe.
O evento teve seu início pela manhã com a abertura da exposição “Teiado – O homem dos 7 ofícios” na Casa da Cultura. A curadoria da mostra foi da artista plástica Iara de Abreu e traz fotografias e objetos da trajetória de vida de Teiado, os quais ilustram os diferentes
ofícios exercidos por ele e seus filhos. Isso nos faz lembrar dos vários trabalhos ou ações em que a técnica, a habilidade e a especialização são necessárias como ofício, quando, cada vez mais, vão se perdendo com o avanço do uso descartável das coisas ou por falta de mão de obra especializada. A mostra esteve aberta ao público durante dois meses.
À noite, a continuação da festa aconteceu no Éden Clube, espaço cedido pela Fundação Casa da Cultura. O evento teve como Mestre de Cerimônias, a jornalista Mitsi Coutinho Lages e contou com uma programação artística variada, encantando o público, sensibilizado a cada apresentação, de quem recordava com saudade a pessoa que marcou a história sociocultural e política de Conceição do Mato Dentro.
Considerando a participação de Teiado e Terezinha junto às tradições culturais da cidade, a abertura da programação foi abrilhantada com as atuações de diferentes artistas da cultura popular. O grupo “Meninos do Rosário” mostrou sua alegria e colorido, fazendo referência à festa do Rosário. O canto do Coral dos Matosinhos relembrou as melodias das saudosas serestas.
Uma surpresa foi quando os filhos – Filó no bombardino, Diogo (trompete) e Inez no saxofone mais os convidados, Manoel e André (da banda Carlos Gomes-BH), da qual Diogo e Filó fazem parte, tocaram os dobrados “José Marçal dos Santos” e “Teiado” junto com a banda Lyra da Paz (CMD), com a regência de Eduardo Peixoto.
Por falar de banda de música, não poderia faltar a presença da Bandinha Sorriso, de Frei Gabriel de Melilli (in memoriam), da qual Teiado era um dos professores. Como homenagem, a bombardinista Hilda Cintra, representando os colegas, declamou um poema, no qual discorria sobre os tempos de aprendizagem com esse Mestre.
Por falar de banda de música, não poderia faltar a presença da Bandinha Sorriso, de Frei Gabriel de Melilli (in memoriam), da qual Teiado era um dos professores. Como homenagem, a bombardinista Hilda Cintra, representando os colegas, declamou um poema, no qual discorria sobre os tempos de aprendizagem com esse Mestre.
O evento contou ainda com a obra audiovisual apresentação do vídeo “Teiado entre Poemas”, do diretor teatral, Riquinho Diana (roteiro e direção) e com edição de Yonan Figueiredo. O vídeo narra poemas da família Safe (Diva Dorothy, Miguel e Wander) e de Cadinho Faria, acompanhados das belíssimas fotos de Nacip Gomêz, músicas de Caxi Rajão entres outras, entrevistas a amigos e filhos de Teiado e Terezinha.
Outro momento emocionante foi quando a soprano lírica, Maria Lúcia Lazzarini, amiga em tantas serestas e atuações, com seus 90 anos abriu as apresentações no palco, cantando com vitalidade e bom tom. Na continuação, as intérpretes Cristina de Oliveira (também poeta e compositora), Denise Picão e a atração principal, a neta Clara Catasús Marçal – emocionaram o público, acompanhadas dos músicos – trompetista João Vianna (que fez a direção musical do evento), violonista Rafael Rafles e o percussionista e também trompetista, André Figueiredo.
Outro momento de muita vibração foi o solo do trompetista João Vianna, acompanhado do violão do
Rafles, a qual atuação deu à sequência a apresentação do vídeo “De trompetistas para o Mestre”,
organizado pelo próprio Vianna, onde músicos de diversos lugares do Brasil expressaram por meio da música uma mensagem a Teiado. Vianna disse que ao conhecer a história de Teiado, ficou comovido com o projeto e decidiu compartilhá-lo com seus amigos. Assim, essa homenagem deixou de ser apenas local, pois alcançou pessoas em nível nacional, podendo chegar a internacional.
Além disso, os trompetistas da banda Carlos Gomes, Manoel e André, formaram um trio com Diogo relembrando também músicas que Teiado gostava de tocar e cantar nas serestas, e lógico, sempre acompanhado por sua esposa Terezinha.
Os exímios músicos conceicionenses, Caxi Rajão (violão) e Renato Carvalho (sax-reto), fizeram um show à parte.
Também lhes acompanhou Clara Catasús, com sua meiga voz, talento musical e performance jazzística,
emocionando o público. A vinda da neta Clara desde Barcelona mostrou a continuidade do legado musical do
avó. Aliás, Clara atualmente estuda música em Amsterdã.
A festa se alongou para mais da meia-noite, até que a música “Olhai para o céu”, considerada o hino do homenageado, foi cantada por Diogo e Clara e, em um “in crescendo”, foi incluindo a participação da família e o público, unindo-se num só coro e grande festa.
O evento também relembrou os tempos áureos do Éden Clube, quando a sociedade conceicionense se
divertia nos carnavais, bailes e festas ao som do grupo musical de Teiado e de outros mais. Em cada mesa se encontrava, em forma de agradecimento, um livreto desenhado pela produtora gráfica Assunção Thomaz, com as letras das “Belas Serestas”. Aquelas músicas prediletas tocadas e cantadas pelos grupos seresteiros, dos quais Teiado e Terezinha fizeram parte ao longo de suas vidas.
Com essa rica programação artística, a celebração encantou o público, que vibrava a cada apresentação, tirando lágrimas de quem recordava desse “casal 20” com admiração e amor. A participação de todos artistas, público e familiares foi um brinde a eles e a sociedade, como reconhecimento de suas trajetórias
com música, participação cultural, sociopolítico e sensibilidade.
Essa atividade foi possível ser realizada com a produção da família Ferreira Marçal e do Instituto Imersão Latina, a acolhida da Fundação Casa da Cultura, o apoio financeiro do Instituto Rupestris, da empresa Bizz, padaria Esquina do Pão, rádio Bom Jesus 98 FM, jornal Pordentro, Honório Mascarenhas (Norinho), Tarcísio Lazzarini, Nacip Gomêz, Honória Silva, Tony Sadi e de vários outros amigos de forma material ou imaterial. Além da colaboração afetiva de TODOS e TODAS participantes das atuações artísticas e equipe técnica.
A cada um/a deles/as um imenso agradecimento!
Família Ferreira Marçal
A festa foi uma verdadeira representação da cultura e do patrimônio
que Conceição do Mato Dentro guarda.
A celebração do Centenário de Teiado relembrou a identidade cultural e patrimonial de Conceição do Mato Dentro. O evento contou com exposição, apresentações artísticas e audiovisuais e, ainda, lançamento do projeto CMD em Memória e site de mesmo nome, onde Teiado e sua esposa Terezinha são os primeiros aclamados. Foi uma mescla de afetividade, promoção da cultura e de reconhecimento
do desenvolvimento da cidade, a partir da trajetória desse visionário.
Centenas de pessoas, entre conceicionenses locais e ausentes, autoridades do município e de outros vizinhos, amigos de Conceição, população em geral, turistas, pessoas de fora do país e de diferentes localidades, tanto por via presencial quanto virtual, acompanharam a festividade de perto ou de longe.
Cartaz do evento
Arte gráfica de Assunção Thomaz
evento teve seu início pela manhã com a abertura da exposição “Teiado – O homem dos 7 ofícios” na Casa da Cultura. A curadoria da mostra foi da artista plástica Iara de Abreu e traz fotografias e objetos da trajetória de vida de Teiado, os quais ilustram os diferentes ofícios exercidos por ele e seus filhos. Isso nos faz lembrar dos vários trabalhos ou ações em que a técnica, a habilidade e a especialização são necessárias como ofício, quando, cada vez mais, vão se perdendo com o avanço do uso descartável das coisas ou por falta de mão de obra especializada. A mostra esteve aberta ao público durante dois meses.
À noite, a continuação da festa aconteceu no Éden Clube, espaço cedido pela Fundação Casa da Cultura. O evento teve como Mestre de Cerimônias, a jornalista Mitsi Coutinho Lages e contou com uma programação artística variada, encantando o público, sensibilizado a cada apresentação, de quem recordava com saudade a pessoa que marcou a história sociocultural e política de Conceição do Mato Dentro.
À noite, a continuação da festa aconteceu no Éden Clube, espaço cedido pela Fundação Casa da Cultura. O evento teve como Mestre de Cerimônias, a jornalista Mitsi Coutinho Lages e contou com uma programação artística variada, encantando o público, sensibilizado a cada apresentação, de quem recordava com saudade a pessoa que marcou a história sociocultural e política de Conceição do Mato Dentro.
Considerando a participação de Teiado e Terezinha junto às tradições culturais da cidade, a abertura da programação foi abrilhantada com as atuações de diferentes artistas da cultura popular. O grupo “Meninos do Rosário” mostrou sua alegria e colorido, fazendo referência à festa do Rosário. O canto do Coral do Matosinhos relembrou as melodias das saudosas serestas.
Uma surpresa foi quando os filhos – Filó no bombardino, Diogo (trompete) e Inez no saxofone mais os convidados, Manoel e André (da banda Carlos Gomes-BH), da qual Diogo e Filó fazem parte, tocaram os dobrados “José Marçal dos Santos” e “Teiado” junto com a banda Lyra da Paz (CMD), com a regência de Eduardo Peixoto.
Por falar de banda de música, não poderia faltar a presença da Bandinha Sorriso, de Frei Gabriel de Melilli (in memoriam), da qual Teiado era um dos professores. Como homenagem, a bombardinista Hilda Cintra, representando os colegas, declamou um poema, no qual discorria sobre os tempos de aprendizagem com esse Mestre.
O evento contou ainda com a obra audiovisual apresentação do vídeo “Teiado entre Poemas”, do diretor teatral, Riquinho Diana (roteiro e direção) e com edição de Yonan Figueiredo. O vídeo narra poemas da família Safe (Diva Dorothy, Miguel e Wander) e de Cadinho Faria, acompanhados das belíssimas fotos de Nacip Gomêz, músicas de Caxi Rajão entres outras, entrevistas a amigos e filhos de Teiado e Terezinha.
Outro momento emocionante foi quando a soprano lírica, Maria Lúcia Lazzarini, amiga em tantas serestas e atuações, com seus 90 anos abriu as apresentações no palco, cantando com vitalidade e bom tom. Na continuação, as intérpretes Cristina de Oliveira (também poeta e compositora), Denise Picão e a atração principal, a neta Clara Catasús Marçal – emocionaram o público, acompanhadas dos músicos – trompetista João Vianna (que fez a direção musical do evento), violonista Rafael Rafles e o percussionista e também trompetista, André Figueiredo.
Outro momento de muita vibração foi o solo do trompetista João Vianna, acompanhado do violão do Rafles, a qual atuação deu à sequência a apresentação do vídeo “De trompetistas para o Mestre”, organizado pelo próprio Vianna, onde músicos de diversos lugares do Brasil expressaram por meio da música uma mensagem a Teiado. Vianna disse que ao conhecer a história de Teiado, ficou comovido com o projeto e decidiu compartilhá-lo com seus amigos. Assim, essa homenagem deixou de ser apenas local, pois alcançou pessoas em nível nacional, podendo chegar a
internacional.
Além disso, os trompetistas da banda Carlos Gomes, Manoel e André, formaram um trio com Diogo relembrando também músicas que Teiado gostava de tocar e cantar nas serestas, e lógico, sempre acompanhado por sua esposa Terezinha.
Os exímios músicos conceicionenses, Caxi Rajão (violão) e Renato Carvalho (sax-reto), fizeram um show à parte. Também lhes acompanhou Clara Catasús, com sua meiga voz, talento musical e performance jazzística, emocionando o público. A vinda da neta Clara desde Barcelona mostrou a continuidade do legado musical do avó. Aliás, Clara atualmente estuda música em Amsterdã.
A festa se alongou para mais da meia-noite, até que a música “Olhai para o céu”, considerada o hino do homenageado, foi cantada por Diogo e Clara e, em um “in crescendo”, foi incluindo a participação da família e o público, unindo-se num só coro e grande festa.
O evento também relembrou os tempos áureos do Éden Clube, quando a sociedade conceicionense se divertia nos carnavais, bailes e festas ao som do grupo musical de Teiado e de outros mais. Em cada mesa se encontrava, em forma de agradecimento, um livreto desenhado pela produtora gráfica Assunção Thomaz, com as letras das “Belas Serestas”. Aquelas músicas prediletas tocadas e cantadas pelos grupos seresteiros, dos quais Teiado e Terezinha fizeram parte ao longo de suas vidas.
Com essa rica programação artística, a celebração encantou o público, que vibrava a cada apresentação, tirando lágrimas de quem recordava desse “casal 20” com admiração e amor. A participação de todos artistas, público e familiares foi um brinde a eles e a sociedade, como reconhecimento de suas trajetórias com música, participação cultural, sociopolítico e sensibilidade.
Essa atividade foi possível ser realizada com a produção da família Ferreira Marçal e do Instituto Imersão Latina, a acolhida da Fundação Casa da Cultura, o apoio financeiro do Instituto Rupestris, da empresa Bizz, padaria Esquina do Pão, rádio Bom Jesus 98 FM, jornal Pordentro, Honório Mascarenhas (Norinho), Tarcísio Lazzarini, Nacip Gomêz, Honória Silva, Tony Sadi e de vários outros amigos de forma material ou imaterial. Além da colaboração afetiva de TODOS e TODAS participantes das atuações artísticas e equipe técnica.
A cada um/a deles/as um imenso agradecimento!
A festa foi uma verdadeira representação da cultura e do patrimônio
que Conceição do Mato Dentro guarda.
Celso Cirino – produção e direção.